As tarifas de importação anunciadas pelos EUA devem ter forte impacto no setor de armazenamento de dados. Os efeitos devem ser diferentes em discos rígidos, unidades de estado sólido, fitas e discos ópticos pelas diferenças entre as tecnologias.
Os fabricantes de HDD e SSD devem ser os mais afetados. Principalmente em decorrência da cadeia logística complexa que muitas empresas utilizam. E isso mesmo com a suspensão de 90 dias nas tarifas recíprocas que Trump anunciou a partir de hoje, 10 de abril.
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Conforme a legislação alfandegária dos EUA, o “país de origem” é determinado pelo local da última transformação substancial, o ponto em que o produto passa por uma grande mudança. O que significa que, num produto com uma cadeia logística com 5 países, provavelmente só o último será considerado como “país de origem”.
O problema é que, em muitos casos, esse país é a China, cujas tarifas impostas chegam a 124%.
Além disso, há regras especiais como o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) que prevê regras tarifárias especiais considerando que há produtos com cadeias logísticas passando pelos três países. Para algumas empresas, esse acordo poderá ser uma alternativa para evitar, ao menos, parte das tarifas.
Cadeias Produtivas de HDDs
Os Discos Rígidos (HDDs) são os dispositivos de armazenamento com a cadeia de suprimentos mais complexa atualmente. E são três as fabricantes de HDD: Seagate, Toshiba e Western Digital.
No caso da Seagate, a operação envolve o desenvolvimento de produtos nos EUA e em Cingapura; fabricação de cabeçotes nos Estados Unidos e Irlanda do Norte; produção de substratos na Malásia; fabricação de mídia em Cingapura ou no Japão; e fabricação de drives e subconjuntos na China e na Tailândia.
A cadeia de suprimentos de HDDs da Toshiba envolve P&D e fabricação de componentes de alto valor no Japão. Já a montagem em massa e integração de componentes são baseadas principalmente na China, Filipinas e Japão.
Por fim, a Western Digital desenvolve seus HDDs nos EUA e no Japão. Os substratos de mídia são produzidos na Malásia, mas a fabricação propriamente dita ocorre na China ou no Japão. Os wafers de cabeça são processados nos EUA, mas a montagem final da cabeça e do gimbal ocorre nas Filipinas e na Tailândia. Os HDDs propriamente ditos são fabricados na Malásia e na Tailândia.
Alternativas para as empresas de HDDs

Embora as três empresas, Seagate, Toshiba e Western Digital tenham cadeias de suprimentos diferentes, suas configurações estão sujeitas a riscos de tarifas de importação substanciais dos EUA. Particularmente considerando as tarifas impostas à China. Porém, outros países também pesam na cadeia, como Malásia (24%), Filipinas (17%) e Tailândia (36%).
Se a Toshiba transferir mais produção para as Filipinas, ela pode evitar o pagamento de tarifas extremamente altas nos EUA. Porém, a Seagate está numa situação muito mais complicada, pois uma parcela significativa dos discos rígidos da empresa é fabricada na China.

Considerando que os HDDs são montados em salas limpas, transferir a montagem para fora da China ou da Tailândia rapidamente é caro e complicado. Além da construção de novas fábricas, é preciso reconsiderar a logística.
E é a logística que deve dificultar trazer a produção para dentro do USMCA. Muito provavelmente, será mais barato procurar outro país asiático e inseri-lo na cadeia logística que criar toda a cadeia produtiva nos EUA e vizinhos.
No caso da Seagate e da Western Digital, as empresas devem aumentar suas operações nos EUA para provar que há 20% de conteúdo americano em seus discos rígidos. Com isso, elas podem reduzir as tarifas, mas podem não ter sucesso na investida.
Situação das cadeias de SSDs

No caso de SSDs, a situação é um pouco diferente. Existem seis empresas no mundo que produzem memória NAND 3D em alto volume: Kioxia, Micron, Sandisk, Samsung, SK Hynix e YMTC. Porém, existem dezenas de fabricantes de SSDs e a maioria opera na China ou em outros países com baixos custos de mão de obra.
E, no caso destes dispositivos, é relativamente fácil estabelecer a montagem, pois não são necessárias salas limpas. O que significa que, no caso de SSDs, as empresas podem ver vantagem em migrar a cadeia logística, ou parte, para o USMCA. Porém, ainda que tomem essa decisão, não será imediato.
Micron, Kioxia e Sandisk são os únicos grandes fabricantes de NAND 3D que não possuem capacidade de fabricação de wafers na China. Porém, as três empresas produzem seus SSDs na China. Portanto, para evitar as tarifas mais punitivas do governo dos EUA, essas empresas terão que começar a fabricar suas unidades em outros lugares.
E isso também se aplica a fabricantes terceirizados de SSDs.
SSDs da Samsung, SK Hynix e Solidigm

A maior parte da NAND 3D da Samsung e da SK Hynix é fabricada na Coreia do Sul, mas elas também têm capacidade de produção de NAND 3D na China, principalmente para atender à demanda local por memória flash e SSDs.
No entanto, os SSDs de varejo da Samsung e da SK Hynix são montados na Coreia do Sul, portanto, a Alfândega dos EUA provavelmente os considerará produtos coreanos sujeitos a uma tarifa de importação de 10%. A tarifa seria de 25%, mas parte da tributação está suspensa por 90 dias.
Ainda não se sabe o que a Solidigm, subsidiária da SK Hynix, fará. A empresa utiliza exclusivamente memória produzida na fábrica da empresa em Dalian, que pertencia à Intel. Se o governo americano decidir impor tarifas proibitivas aos chips NAND 3D fabricados na China, a Solidigm estará numa péssima situação.
E o mesmo será válido para Micron, Kioxia e Sandisk.
Fitas e Discos Ópticos

Unidades de fita e discos ópticos sofrem efeitos diferentes. A IBM fabrica unidades de fita LTO no Arizona e escapa das tarifas, com exceção das peças importadas. A japonesa Fujifilm fabrica fitas em Massachusetts, o que também a deixa em segurança quanto às tarifas. A Sony, porém, produz no Japão, o que a obriga a arcar com uma taxa de 24% sobre as fitas importadas para os EUA.
Discos Blu-ray e DVD são fabricados na China, Índia, Japão e Taiwan. A taxa específica de cada país será aplicada ao envio desses itens para os EUA, e é improvável que alguém transfira a produção de discos para os EUA. Resta saber como as tarifas afetarão os discos pré-gravados com jogos e filmes.
Fonte: Blocks & Files.